‘Sandbox’ da Susep terá terceira edição

Matéria escrita por Juliana Schincariol, jornalista do Valor Econômico

Regulador planeja incluir no programa entidades fomentadoras de crédito, para levantar recursos para insurtechs ou fornecedores de tecnologia

Criado pela Superintendência de Seguros Privados (Susep) para introduzir novos concorrentes no mercado segurador, o ambiente experimental de inovação conhecido como “sandbox” terá uma terceira edição. O regulador planeja envolver no programa entidades fomentadoras de crédito, como a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep). O objetivo é levantar recursos para os próprios participantes ou empresas que desenvolvem tecnologia para as insurtechs.

“De várias empresas que não têm o capital mínimo para ingressar no mercado, algumas necessitam de financiamento para poder começar a oferecer produtos”, diz o superintendente Alessandro Octaviani. Na próxima rodada, o sandbox também deve conversar com outros temas de políticas públicas, como transformações ambientais. O programa é uma das prioridades da Susep, e o novo modelo deve ser definido até o fim de 2023.

Das dez seguradoras que entraram na primeira edição, em 2021, oito fazem parte do programa atualmente. A Pier converteu sua licença temporária em permanente e a Stone saiu do projeto. Na segunda turma, o projeto foi ampliado e, entre as 21 selecionadas, nove participam do sandbox e duas estão em análise final para aprovação. As outras desistiram, tiveram os pedidos negados ou os projetos foram arquivados. Segundo a Susep, desde o início do programa até o fim de 2022, as insurtechs emitiram R$ 73,8 milhões em prêmios e R$ 50,1 milhões em sinistros. O maior volume, até o momento, foi da Pier.

O resultado diferente das seguradoras iniciantes é “absolutamente natural”, lembra o superintendente. “Adoraríamos dizer que todas as empresas obtiveram imenso sucesso, mas não é assim que funciona um programa de fomento no mundo inteiro. Nós temos que temos que buscar a melhor forma de melhorar essa regularidade estatística”, diz Octaviani.

“O desafio agora para a Susep é fazer essas empresas crescerem”, afirma o conselheiro da Associação Brasileira de Insurtechs (ABI), Henrique Volpi, que também é um dos fundadores da Kakau, seguradora selecionada para a segunda edição do sandbox. “Talvez um caminho para programas futuros seja pensar em edições temáticas, de acordo com demandas do mercado”, sugere.

Desde que o ambiente experimental foi criado, o cenário econômico mudou, assim como o apetite dos fundos de private equity e venture capital, potenciais investidores das insurtechs, e seguradoras como a Clubflix planejam crescer de forma independente. “Ampliando nossas vendas, o próprio negócio se sustenta”, acredita Sérgio Prazeres, CEO da insurtech, escolhida na segunda edição. Atualmente, as propostas de investimento oferecem o mesmo valor por uma fatia duas vezes maior da empresa do que o pretendido anteriormente, afirma.

Isso não quer dizer que as conversas com fundos se encerraram. A Iza, que já levantou cerca de R$ 16 milhões, tem falado com alguns, diz o fundador Gabriel de Ségur. “O mundo do dinheiro fácil acabou. O mais importante é termos o apoio da Susep”, afirma. Além da parceria com os canais de distribuição com os quais já trabalha, planeja se aproximar de corretores, estratégia utilizada também por outras insurtechs como a Darwin, em busca de atrair novos entrantes, sem necessariamente concorrer diretamente com outras seguradoras já estabelecidas.

Um levantamento da ABI mostra que 80% dos segurados que contrataram seguros das participantes do sandbox nunca haviam tido acesso ao produto antes. “Talvez esse cliente não entraria no mercado e talvez o corretor não enxergasse essa comissão”, diz Firmino Freitas, sócio fundador da seguradora Darwin, que entrou na primeira edição do programa. O fundador da corretura de seguros Globus, Christian Wellisch, entende que a distribuição dos produtos ainda deve ser resolvida. Sem corretores, o custo de aquisição de clientes é muito alto. Mas, ao se voltarem para esses profissionais, algo pode estar dando errado no modelo inovador das insurtechs, aponta. O fato de serem monoprodutos, por determinação das regras do sandbox, afeta o seu desenvolvimento.

“Ao trazer mais empresas para o mercado, as pessoas hoje conseguem contratar seguros mais baratos. Esse programa está conseguindo dialogar com seu mercado consumidor e, para nós, isso é um sinal de que é bem-sucedido”, diz Octaviani, da Susep.

Matéria escrito por Juliana Schincariol

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