BNP Paribas Cardif expande parcerias e fatura R$ 3 bi

Matéria escrita por Sérgio Tauhata, do Valor Econômico

Modelo de negócio da seguradora prioriza distribuição de produtos por empresas de diversos
setores, de varejo a montadoras

Alcançar os R$ 3 bilhões em receita era uma das metas de Sheynna Hakim quando assumiu como CEO da BNP Paribas Cardif no Brasil, em março de 2022. Naquele primeiro ano ainda incompleto da nova executiva-chefe à frente do grupo, a seguradora chegou perto, com um faturamento de R$ 2,7 bilhões. No ano passado, primeiro período “cheio” de Hakim, a Cardif conseguiu superar a marca ao registrar R$ 3,1 bilhões em prêmios, com crescimento anual de 21%.

O modelo de negócios que a seguradora consolidou difere da maioria das companhias do setor no país. Isso porque a empresa não atende diretamente o consumidor final nem distribui produtos por meio do canal de corretores. “Nós reforçamos muito esse modelo ‘B2B2C’ [de
distribuição por meio de outras empresas], com diversificação de parcerias e de setores”, afirma Hakim. No ano passado, cita a executiva, a seguradora fechou uma parceria de 20 anos com o banco BRB, além de renovar a distribuição com o Magazine Luiza.

Segundo a CEO, a operação brasileira é a terceira maior entre as 35 regiões do grupo global. “Somos um dos mercados com maior potencial de crescimento”, acrescenta. De acordo com a líder da seguradora, o modelo de parcerias se expande rapidamente na indústria. “É o parceiro que vai me ajudar a transformar”, diz. “Na nossa linha de atuação a gente senta com o parceiro, seja uma rede de varejo, um banco ou uma montadora de automóvel, e busca formatar os produtos para atender necessidades específicas dos clientes”, explica.
Hakim cita como exemplo o caso do Magalu, uma das colaborações mais antigas da Cardif.

“Começamos a tentar entender que outros produtos e proteções fariam sentido para os clientes do Magalu. No pós-pandemia, passamos a olhar um pouco mais para esse mundo de saúde. E constatamos que a maioria dos clientes da varejista são atendidos pelo SUS [Sistema Único de Saúde], que tem um ótimo atendimento em várias áreas, mas também tem alguns gaps. Então criamos um produto de proteção, não é um plano de saúde, mas tem assistências complementares ao SUS, como telemedicina, telepsicologia, desconto em farmácia. Criamos no ano passado e tem sido um grande sucesso, porque atende uma necessidade específica desse cliente. Tem muitos consumidores voltando para a loja, querendo dar de presente para
mãe, para irmã.”

Hakim afirma que a seguradora tem apostado na expansão de parcerias com empresas financeiras digitais, como Neon, PagBank e Mercado Livre, redes de varejo, bancos e até montadoras. “As inovações surgem da interação com as demandas dos parceiros”, diz. A
executiva conta o caso do BRB. “Com a parceria, lançamos nosso primeiro seguro de vida ‘puro’, porque antes a gente tinha a cobertura, mas atrelada ao prestamista. Depois entendemos que existia um público que estava de fora desse mercado, mas era importante para o banco. Lançamos um produto para proteger pessoas com idade de 70 anos até 85 anos. Para a instituição, torna-se um novo nicho, porque com a proteção de um seguro de vida, o cliente idoso volta a se tornar elegível para crédito com prazos mais longos.”

A CEO da Cardif afirma que a construção do produto para o BRB levou em consideração um dos propósitos da empresa. “Tornar o seguro mais acessível é uma de nossas missões. Temos uma placa na parede para nos lembrar sempre. Quando a gente fala de acessível, falamos de
inclusão também. Temos o objetivo de proteger a maior quantidade de brasileiros possível. Como é que a gente começa a incluir mais pedaços da população que talvez tradicionalmente fiquem de fora? Esse é um desses produtos.”

O ano passado, ressalta Hakim, marcou ainda um investimento intenso em tecnologia. “Vim com essa pauta de crescimento e transformação e, em 2023, nos tornamos o primeiro país da Cardif a entrar num mundo de ‘cloud’ [computação em nuvem]”, afirma. “Fizemos uma migração importante [de sistemas] na nuvem, para nos adaptar à velocidade do mundo digital e a necessidade de atender o cliente no tempo dele”, acrescenta. “Hoje, 42% da regulação [análise e aprovação] dos sinistros é feita digitalmente, sem nenhuma intervenção humana, com uso de inteligência artificial e outras ferramentas.

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