Matéria do Seguro Rural Brasil, por Tany Souza
Durante o Cred-Tech Brasil, evento realizado na última quinta (05) na Amcham, em São Paulo, especialistas discutiram como oferecer crédito ao mercado agrícola e à sua cadeia produtiva, em meio a um setor grandioso.
Fabio Neufeld, head de soluções financeiras da Syngenta, destacou que o ecossistema da companhia historicamente não acessa o crédito de forma satisfatória. “Estimamos que cerca de 30 a 40% do crédito agrícola no Brasil está nas mãos da indústria, o governo responde por uns 20%, o mercado financeiro por 20 a 30%, e o restante vem do bolso do produtor. Somos o maior player de crédito no agro para o exterior”.
Considerando a grandiosidade do mercado de crédito no Brasil, a companhia criou em abril de 2023 o Sistema SYDE, uma fintech para intermediar toda essa cadeia. “Queremos cada vez mais trazer parceiros de crédito que concederão crédito direto ao produtor rural, para compras à vista junto ao meu distribuidor”.
Francisco Jardim, fundador da SP Ventures, relembrou que, em 2016 e 2017, houve uma revolução no mercado financeiro brasileiro, especialmente no setor de crédito, incentivada pela desregulamentação de várias áreas, enquanto o agro ficou para trás. “O agro, sendo a cadeia mais intensiva em capital de giro, com ciclos longos e representando uma parte significativa do nosso PIB, tinha uma estrutura de crédito frágil. Isso criou uma grande oportunidade para novos modelos de negócios e tecnologias que democratizam o acesso ao crédito e conectam o mercado de capitais ao produtor”.
Maurício Quintella, diretor de operações na Traive, ressaltou a magnitude do mercado, que movimenta quase um trilhão de reais em crédito anualmente. Ele enfatizou a importância de facilitar o acesso ao crédito com tecnologia: “Nós somos uma empresa de tecnologia que simplifica esse processo de concessão, atraindo mais investidores, inclusive internacionais”.
Apesar disso, falta segurança para atrair mais capital. Quintella pontuou que o agro vive atualmente um momento mais complexo, mas que é necessário preservar o capital absorvido nos últimos anos e trazer novos recursos. “Quando o mercado está em alta, muitos querem emprestar dinheiro e conceder crédito a grandes produtores. Contudo, é preciso olhar para os pequenos produtores, oferecendo educação e informação aos grandes investidores sobre os ciclos naturais do setor”, explicou Fabio Neufeld.
Os desafios do setor também foram debatidos. Além de atrair mais investimentos do mercado de capitais, Quintella destacou a complexidade de analisar o crédito em um setor vulnerável a riscos climáticos e problemas macroeconômicos, como a COVID-19 e a guerra na Ucrânia.
Já Francisco Jardim apontou as mudanças estruturais do setor agro desde 2019, com o surgimento de várias companhias e uma concentração de atividades empreendedoras. “Como investidores, enxergamos a flexibilização da cadeia agropecuária, logística e de culturas como um todo, o que demonstra um avanço significativo no setor”.