Grupo investe R$ 200 mi e vê em fuga de empresas para NY chance de bater B3

Matéria escrita por Leo Guimarães para o E-investidor do Estadão

CSD BR já entrou com pedidos de licença para se lançar como competidor da Bolsa brasileira

Nos últimos anos, inúmeras empresas brasileiras resolveram abrir capital em Nova York. São pelo menos 18 delas, sendo Nubank, XP, Stone e Pagseguro aquelas com a maior liquidez. Para a CSD BR (Central de Serviços de Registro e Depósito aos Mercados Financeiro e de Capitais S.A), esse deslocamento significa uma brecha para investir em infraestrutura de negócios e concorrer diretamente com a B3 (B3SA3), a única bolsa de valores atuante no Brasil.

A empresa tem investido R$ 200 milhões para abrir seu leque de serviços e espera ter duas licenças de funcionamento em breve para se lançar como novo competidor em até três anos.

A CSD pleiteia junto ao Banco Central o direito de fazer o serviço de câmara de compensação (liquidação). Da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), ela espera pela autorização de serviços de central depositária. Com as duas licenças – garantindo as operações financeiras e custodiando as operações – a CSD BR se tornaria uma “full Cetip”, nas palavras do CEO Edivar Queiroz.

É na infraestrutura de mercado por trás das intermediações financeiras que o grupo quer brigar com a B3. Queiroz diz que o diferencial será no que ela já entrega aos bancos por meio de seu atual serviço de registro de ativos financeiros: velocidade de processamento.

“A gente viabiliza as operações de uma maneira mais rápida e fazemos cálculos que a B3 não oferece. Diminuímos o trabalho operacional de backoffice do cliente, isso é um diferencial gigante”, diz Queiroz. Ele pretende levar essa maior eficiência para os serviços de liquidação e depósitos. “A nossa resposta, por fazer em streaming, é imediata”, afirma.

B3 é uma operação dominante

Não é de hoje que o domínio da B3 chama atenção de possíveis concorrentes, apesar de muitos terem ficado apenas na promessa de desafiá-la.

A história de consolidação da B3 é antiga, anterior a 2008, ano em que a Bovespa anunciou fusão com a Bolsa de Mercadorias e Futuros (BM&F). Em 2017 foi a vez da BM&FBovespa anunciar sua união com a Cetip para criar a B3 (Brasil, Bolsa e Balcão).

Sozinha neste mercado, a companhia opera mais de R$ 8 trilhões apenas dos fundos de investimentos – um de seus clientes. A lista ainda conta com capital de bancos, corretoras, pessoas físicas e estrangeiros.

Esse controle de mercado garantiu à B3 uma receita líquida de quase R$ 10 bilhões em 2023, uma margem de lucro acima de 40% e um retorno sobre o patrimônio liquido (ROE) na casa dos 20%.

Adversários enxergam oportunidades

A CSD BR não é a única a alardear interesse em concorrer com a gigante do setor. O Americas Trading Group (ATG), sob o controle do fundo Mubadala Capital, com sede nos Emirados Árabes Unidos, também planeja estabelecer uma nova Bolsa no Brasil.

A diferença, diz Queiroz, é que o plano de sua companhia é o de criar uma nova infraestrutura de serviços, enquanto a ideia do ATG seria a de montar uma exchange ligada à câmara de compensação da B3. “É legal ver o Mubadala se propondo a fazer isso. Prova que a nossa tese está correta, que não somos apenas visionários. Estamos enxergando uma oportunidade gigante”, diz o executivo.

A CSD BR calcula um aumento de 50% no nível de negociação de ativos no Brasil com a instalação de uma nova infraestrutura concorrente à B3. Poderia chegar a quatro vezes no cenário mais otimista, com fatores exógenos positivos, a exemplo de um crescimento de PIB acima de 3% e outras condições.

B3 é dominante, mas não está parada

A B3 foi procurada para comentar as questões ligadas a processamento de informações e cálculos, mas preferiu não comentar. No entanto, a companhia não está parada.

No quatro trimestre de 2023, a B3 reportou investimentos de R$ 103,4 milhões em atualizações tecnológicas, capacidade, segurança e desenvolvimento de novos produtos e funcionalidades.

O CEO da B3, Gilson Finkelsztain defende que a entrada de novos concorrentes poderia deixar o mercado mais caro, como nesta entrevista de 2021 ao E-Investidor. Seu argumento é que as empresas listadas e os clientes teriam de comprar dados de monitoramento e dar ordens em duas Bolsas.

A CSD BR não diz que pode entregar serviços mais baratos: prefere afirmar que vai entregar infraestrutura mais ágil. O ponto que apoia sua tese é um relatório de 2017 da Financial Stability Board (FSB) indicando oportunidades. O material aponta concentração de atividades no Brasil em entidades como depositários de valores mobiliários, plataformas de negociação e sistemas de compensação e liquidação.

A CSD tem como acionistas o BTG, Santander e a Chicago Board Options Exchange (Cboe). Os dois primeiros, conta Queiroz, são extremamente ativos na operação da companhia. Já o Cboe tem experiência em 19 Bolsas de valores no mundo e tem a maior câmara de compensação (clearing) da Europa. “É a chance de a gente se integrar no mundo”, ressalta.

O que a CSD BR tem e o que falta

No serviço de registro, atividade que já possui licença para operar e que já concorre com a B3, a CSD comemora saltos importantes. Passou de R$ 1,3 trilhão para R$ 1,5 trilhão em estoque de operações registradas em produtos como CDBs e Swaps. Com as novas licenças, a empresa quer começar, em até três anos, a desafiar o que Queiroz chama de “monopólio da B3”.

A CVM confirma que há um processo em análise para a concessão da prestação de serviço de depósito centralizado, “nos termos do disposto na Resolução CVM nº 31/2021”.

Em caso de o processo ser aprovado, a CSD ainda não estaria apta a administrar uma bolsa. A autarquia ressalta que os requisitos para a constituição de um mercado organizado de bolsa e sua respectiva entidade administradora estão dispostos em outra resolução, de número 135/22. A análise sobre a parte de liquidação está sendo avaliada pelo Banco Central.

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