Matéria escrita por Alex Ricciardi para o Valor Econômico.
Órgão regulador desenvolveu programa para dar segurança às empresas para ofertar produtos a novo público
O aumento no número de trabalhadores autônomos, especialmente após a pandemia, vem sendo acompanhado de perto pela indústria de seguros, que amplia a oferta de produtos destinados a esse público. Além de coberturas já tradicionais, como de responsabilidade civil para profissionais liberais da área da saúde, aumenta a oferta de apólices voltadas àqueles que realizam serviços e reparos domésticos, como diaristas.
Pouco mais de um quarto dos trabalhadores ocupados são autônomos. No trimestre encerrado em dezembro de 2023, eles somavam 25,6 milhões de pessoas, de acordo com o IBGE, contra 24,3 milhões no pré-covid – e 20,9 milhões dez anos antes. Esse mercado crescente é acompanhado pelos órgãos reguladores. “A venda de seguros privados para autônomos representa um avanço significativo no acesso a seguros para camadas da população que estavam desprotegidas sob vários aspectos”, afirma Júlia Normande Lins, diretora técnica da Superintendência de Seguros Privados (Susep). Segundo ela, um programa da entidades permitiu que as seguradoras testassem esses produtos sob supervisão do órgão, o que aumentou a confiança das empresas para operarem na área.
Algumas dessas apólices, em razão de seu ineditismo, são vendidas por insurtechs, as startups do setor. Uma delas é a IZA Seguros, que recentemente fez uma parceria com a Mary Help, empresa que faz a ponte entre profissionais do lar e clientes, para oferecer uma apólice para acidentes pessoais, incluindo de trajeto, para domésticas, cozinheiras etc. O teste foi realizado no ano passado em quatro cidades paulistas. Com a aceitação por parte das profissionais, o produto foi disponibilizado para as 160 unidades da Mary Help espalhadas por 15 Estados.
“O produto também foi muito valorizado pelas clientes que contratam as diaristas”, afirma José Roberto Campanelli, CEO da Mary Help. Gabriel de Ségur, fundador e CEO da IZA Seguros, diz que as indenizações podem ser pagas via Pix, em menos de 24 horas. “Nosso recorde de pagamento foi de somente 19 minutos”, afirma.
No caso de profissionais liberais, há apólices para engenheiros que cobrem eventuais falhas de execução, por exemplo, e seguro contra erros e omissões médicas, entre outras. “Nosso seguro de responsabilidade civil profissional para médicos, dentistas e outros profissionais da saúde garante a eles o pagamento de indenizações, despesas e custas judiciais em caso de reclamações ou ações movidas por terceiros em razão de danos causados por procedimentos realizados por profissionais segurados”, detalha Andrea Nogueira Soares, superintendente de seguros massificados da Mapfre.
Segundo Bernardo Castello, diretor da Bradesco Vida e Previdência, essa amplitude de coberturas oferecidas está relacionada a uma mudança na percepção que a sociedade tem desse tipo de serviço. “Antes [o seguro] era visto como voltado apenas à proteção da família e beneficiários em caso de falecimento do provedor. Agora, já começa a ser percebido também como fator de prevenção, essencial ao cuidado e ao planejamento financeiro, podendo e devendo ser utilizado em vida”, afirma Castello.
A advogada Camila Calais, sócia para seguros, resseguros e previdência privada do Mattos Filho, defende que seguros para autônomos devem ser mais simples para tornarem-se mais acessíveis não apenas em preço, mas em compreensão do que se está contratando. “As seguradoras devem ser mais livres para criar seus produtos e/ou trazer experiências bem-sucedidas desse mercado em outros países para o Brasil”, diz.
O gerente de produtos da MAG Seguros, Rodrigo Cunha, que estudou esse mercado fora do Brasil, afirma que apólices para esses profissionais também estão disponíveis em vários formatos – como coberturas de saúde, responsabilidade civil, invalidez, renda etc. – nos Estados Unidos, na Europa e no Japão. “Mesmo em nações ainda em desenvolvimento, onde o mercado de seguros não é tão diversificado, encontram-se opções para os autônomos”, completa.